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Assistindo aos Jogos Olímpicos de Tóquio, o brasileiro pode ficar com bastante orgulho de seus compatriotas bem sucedidos — como Ítalo Ferreira, com seu ouro no surfe ou a “fadinha” Rayssa Leal no skate —, mas também se questionar por que nosso país não é uma grande potência olímpica. Afinal, temos tradição em vários esportes, com destaque para o futebol.
Até hoje, o Brasil conquistou cerca de 130 medalhas nos Jogos Olímpicos, sendo 30 de ouro. Isso é menos do que países menos populosos, como Austrália, Grécia e Suécia ou menos até do que países mais pobres, como o Quênia (31 ouros). Então, por que o Brasil não ganha mais medalhas?
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A verdade é que o Brasil melhorou seu desempenho nas Olimpíadas gradativamente: nosso primeiro ouro foi em 1920, com o tiro, e só ganharíamos outros na década de 1950, com Adhemar Ferreira da Silva no atletismo.
Novos ouros viriam apenas nos Jogos de 1980, em Moscou (boicotados por metade dos países ocidentais), com a vela. Desde então, o Brasil sempre garantiu pelo menos um ouro, com exceção de Sydney 2000.
A vela, aliás, é o esporte mais vitorioso do Brasil, com sete ouros. Depois, são cinco no atletismo (o último deles com Thiago Braz, no salto com vara da Rio 2016), 5 no vôlei de quadra, 4 no judô e 3 no vôlei de praia, entre outras modalidades.
No geral, nossa performance mais vitoriosa foi na Rio 2016, com sete ouros, superando o recorde de Atenas 2004, onde havíamos conseguido cinco (um deles um ano após o fim dos Jogos, com a descoberta de um caso de doping no hipismo).
Algo que precisa ser destacado sobre nossas medalhas nas últimas Olimpíadas é que o Brasil tem uma diversidade de esportes. Há países como o Quênia, Jamaica, Hungria ou Azerbaijão que vão bem no quadro de medalhas, mas com poucas modalidades: das 31 medalhas de ouro do Quênia, 30 são do atletismo.
Nesse contexto, há especialistas que classificam o Brasil como uma potência olímpica emergente: se os investimentos forem contínuos, em todos esses esportes, o Brasil tem chance de ser muito maior.
Das medalhas que o Brasil conquistou em suas últimas Olimpíadas, é possível observar uma grande presença de esportes coletivos (futebol e vôlei, em especial) que oferecem apenas uma medalha para a equipe e não nos fazem avançar muito no quadro geral. Só na Rio 2016, Michael Phelps ganhou cinco ouros sozinho, já que a natação é um esporte que dá muitas medalhas.
Claro que isso não significa que o Brasil deva deixa de celebrar as medalhas que esses esportes trazem. Porém isso dá uma pista do que o país deve fazer para se tornar uma potência olímpica: investir em mais atletas em diversas modalidades. Isso está sendo feito nas últimas décadas e trazendo essa melhora nas últimas edições. O que explica como outros países se tornaram potências olímpicas, também.
Após o governo de Margaret Thatcher, o primeiro-ministro John Major criou uma nova loteria esportiva que renderia todo seu lucro para os esportes. Os investimentos saltaram de 5 milhões de libras anuais para 274 milhões, fazendo com que o país fosse de 36º no quadro de medalhas em 1996 para o segundo na Rio 2016, com 27 ouros. Claro que a política britânica pode ser questionada — só investe em modalidades que dão medalhas para o país —, mas é um bom exemplo.
No Brasil, as coisas começaram a mudar com a criação do Ministério do Esporte nos anos 1990 (ele seria extinto em 2019) e investimentos da loteria. Porém este é baixo: só 2% da Mega Sena. Além disso, há acordos com as Forças Armadas: vários de nossos atletas treinam em instalações militares e recebem como soldados ou sargentos.
Mas muitas de nossas glórias em esportes individuais — os que mais rendem medalhas — acabam vindo mesmo de fenômenos raros ou de grande esforço pessoal, apesar das dificuldades. É o caso de Ítalo Ferreira, que ganhou a medalha de ouro no surfe em Tóquio e começou treinando em tampas de caixa de isopor. Infelizmente, enquanto os investimentos forem pequenos, as vitórias serão exceções.
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Há modelos matemáticos que relacionam a conquista de medalhas por uma delegação a quatro fatores: população, riqueza do país, ter um regime comunista no presente ou no passado recente e sediar os jogos.
O comunismo é um fator porque esses países costumam buscar ativamente por heróis e investem bastante no esporte para isso — vide a União Soviética continuar na segunda posição do quadro de medalhas, três décadas após sua dissolução e a Rússia ainda ser uma potência olímpica.
A China também cresceu enormemente nas últimas décadas por investimentos estatais. A questão é que não é preciso, necessariamente, ser comunista para investir nos esportes, como mostra o exemplo da Grã-Bretanha.
Sediar os jogos é um fator importante, justamente, porque os países costumam investir mais para não fazer feio “em casa” e os frutos desse investimento permanecem pelas Olimpíadas seguintes.
A Grã-Bretanha foi sede em 2012 e continuou no segundo lugar em 2016. A Austrália foi sede em 2000 e continua sendo um país relevante. O Japão começou a investir nas Olimpíadas de 2020 e já chegou em sexto no quadro de medalhas da Rio 2016. A própria China focou bastante nos jogos de Beijing 2008 (e vai sediar as Olimpíadas de Inverno em 2022).
Mas por que os investimentos estatais são tão importantes? Bem, de uma forma ou de outra, os atletas precisam ter condições para viver em função dos esportes — e isso é difícil aqui no Brasil.
Um levantamento do Globo Esporte revelou que, dos 309 atletas brasileiros em Tóquio, 42% não têm qualquer patrocínio e 19% vivem com menos de 2 mil reais por mês, 13% fizeram vaquinha para ir aos jogos e 10% não vivem do esporte, tendo outras profissões. Há até motoristas de app entre nossos atletas olímpicos.
Porém, mais do que investir em atletas de elite, também precisamos incentivar o esporte (isto é, além do futebol e do vôlei) desde a infância, criando uma cultura esportiva (e, por consequência, olímpica) no país.
Isso é o que destacam os Estados Unidos, por exemplo, com suas 1022 medalhas de ouro na história das Olimpíadas: há incentivos para praticar esportes e competições desde a escola e um grande aparato de esportes universitários.
O nadador Bruno Fratus — promessa de medalha para Tóquio, que treina nos EUA — resumiu essa questão em entrevista para a revista VEJA, em 2019: “A gente tem talento, tem qualidade, conhecimento, os melhores treinadores, nutricionistas, tudo. Poderíamos ser uma potência, o que falta é essa cultura esportiva. Se toda criança do nosso país praticasse esporte, não ia ter para Estados Unidos, Rússia, China, para ninguém”.
Fonte: BBC, Gol Business, SportTV/Globo, Exame, Veja, Globo esporte
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