O salário emocional é uma tendência que ganhou força entre millennials e gen Z depois da crise sanitária causada pela pandemia de COVID-19. Graças ao tempo em isolamento, trabalhadores de todo o mundo têm repensado prioridades, colocando em primeiro plano fatores como saúde, bem-estar, senso de propósito e tempo de qualidade com a família. Agora, a ideia de que dinheiro não traz felicidade nunca esteve tão na moda.
Se as mesas de ping pong e o vale-refeição acima da média viraram sensação entre multinacionais e startups nos anos 2010, a onda da vez é integrar os mimos a uma cadeia de valores que faça sentido para o funcionário e se encaixe no cotidiano deles. E esse pode ser o fim da era “trabalhe enquanto eles dormem”.
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Salário emocional, sim: dinheiro não compra qualidade de vida
Em 2022, a companhia de recursos humanos Randstad avaliou 35 mil pessoas com idades entre 18 e 67 anos de 34 países e constatou que os millennials (nascidos entre 1980 e 1996) e gen Z (1997 a 2010) colocam a felicidade acima de tudo: 56% afirmam que deixariam o emprego se isso os impedisse de “aproveitar a vida”.
A discussão é menos comum entre os baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e a geração X (nascida entre 1965 e 1980), que passam muito mais tempo em uma mesma companhia do que gerações mais recentes. Segundo o Ministério do Trabalho, enquanto profissionais entre 18 e 24 anos permanecem em média nove meses em um mesmo cargo, quem tem mais de 65 chega a nove anos.
A troca constante de emprego é cada vez mais estudada e tem até nome: job hopping. Muitos especialistas atribuem o fenômeno ao amplo acesso à informação das novas gerações, mas a fragilização dos vínculos trabalhistas também entra nessa conta.
Sacrificar saúde mental e tempo de lazer por companhias com quem não se tem boas relações de troca e reconhecimento tem se tornado menos comum e dois movimentos ligados a isso são a demissão silenciosa, em que o profissional faz apenas o mínimo do seu trabalho até ser demitido, e a grande demissão, fenômeno do pós-pandemia em que milhares de pessoas pelo mundo deixaram seus cargos após terem que voltar ao trabalho presencial sabendo que poderiam perfeitamente trabalhar de modo remoto e com qualidade de vida. Não por acaso, o teletrabalho é um dos pontos que mais pesam quando o assunto é salário emocional.
Além do contracheque: o que importa no mercado de trabalho para as gerações mais jovens
Mas, afinal, o que importa para millennials e gen Z? Em entrevista à BBC, a mexicana Marisa Elizundia, criadora de uma ferramenta online que mede “os benefícios puramente emocionais que os indivíduos obtêm no trabalho”, listou 10 fatores para medir o salário emocional:
- Autonomia para administrar as próprias atividades;
- Pertencimento a um grupo que te valoriza e reconhece seu papel e suas qualidades;
- Espaço para criatividade: a oportunidade de colocar a marca criativa em uma tarefa não deve ser um privilégio de poucas pessoas ou carreiras;
- Plano de carreira que ofereça uma projeção a médio e longo prazo;
- Momentos de prazer e diversão;
- Domínio da função;
- Momentos de inspiração e insights;
- Desafios pessoais que ajudem a crescer;
- Ter um propósito: “é quando você tem a sensação de que seu trabalho contribui para os seus próprios propósitos e os da empresa, que aquilo tem um significado para você”, diz Elizundia.
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O salário emocional na prática
Mas, na prática, como é um ambiente de trabalho que preza pelo salário emocional? O Mercado Livre é um bom exemplo: além de buscar fomentar um ambiente de reconhecimento e senso de propósito, a companhia oferece benefícios pouco convencionais, como o custeio parcial do congelamento de óvulos para mulheres que querem postergar a gestação por conta da carreira.
A biofarmacêutica Takeda tem outro mimo interessante: day off no aniversário dos filhos, reconhecendo a importância das relações familiares na valorização integral dos funcionários. E para quem é mãe ou pai de pet, a Microsoft e o Yahoo oferecem seguro saúde para os bichinhos nos Estados Unidos.
Mas apesar de o salário emocional ser cada vez mais demandado pelas novas gerações, poucas empresas brasileiras têm olhado para essa questão. Um levantamento recente do Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP, reuniu 438 profissionais de Administração registrados, e mostrou que 53% não dispunham de benefícios voltados ao bem-estar e à qualidade de vida nas companhias em que trabalhavam. O jeito é torcer para que as organizações comecem logo a se atentar a esse ponto e aprendam a reter seus talentos de forma cada vez mais inteligente.
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