Uma das principais polêmicas da língua portuguesa é o uso da expressão “risco de vida”. Apesar de ser considerada incorreta por muitos linguistas, ela aparece em obras clássicas da literatura brasileira, como “Arca de Noé” e “Quincas Borba”, de Machado de Assis, e “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo.
Mas se até autores importantes utilizaram o termo, qual o problema com ele? Saiba mais sobre a expressão comum em noticiários, e entenda qual você deve usar em sua redação.
Risco de vida ou risco de morte?
Mesmo que seja usada há muitos anos e esteja no primeiro dicionário da língua portuguesa, de 1789, a expressão “risco de vida” passou a ser questionada recentemente porque se refere a alguém que corre o risco de morrer e não de viver. E, afinal, se a ideia é levar o termo ao pé da letra, o certo seria risco de morte e não de vida, não é mesmo?
Mas alguns linguistas questionam a polêmica, argumentando que o termo denota uma lógica implícita: o risco de (perder) a vida, e está tudo bem. Quem defende essa linha diz também que nem tudo da língua precisa ser literal e, portanto, se o uso de uma expressão é socialmente convencionado, o que importa é transmitir a mensagem.
Algo semelhante aconteceu com “através”, que se refere a um modo de atravessar alguma coisa. Por exemplo: o rio passa através da janela, o carro passa através do portão.
Acontece que, com o tempo, o termo começou a ser utilizado em situações em que esse atravessamento não era literal, como: crianças se transformam através da leitura; o mundo muda através da ciência. Então, mesmo a expressão tendo sido convencionada socialmente, passou a ser questionada dentro da norma culta e encarada como vício de linguagem.
O que são vícios de linguagem?
Vícios de linguagem são expressões, que, mesmo comuns no uso coloquial, ferem padrões da norma culta, podendo gerar problemas de entendimento do enunciado ou ruídos na comunicação.
Além de “risco de vida” e o uso de “através” para finalidades que não sejam a de, literalmente, atravessar algo, costumam entrar nessa lista:
– pleonasmos viciosos, caracterizados por sentenças redundantes não propositais, como surpresa inesperada (se é surpresa, é inesperada) e ver com os próprios olhos (se é ver, é com os próprios olhos);
– arcaísmos, quando se utiliza palavras já desuso, como quiçá e por obséquio;
– barbarismos, em que uma palavra ou enunciado não segue a norma culta, seja na pronúncia, grafia ou morfologia, como trocar pneu por peneu;
– cacofonia, produção de som que pode causar estranhamento ao leitor ou confusão na pronúncia, como “ela tinha olhos lindos (latinha)”, “nunca Brito foi tão educado (cabrito)” e “eu vi ela essa tarde na escola (viela)”.
Mas, afinal, podemos usar “risco de morte”?
Apesar do questionamento de linguistas, que defendem uma postura mais branda com relação ao termo (já que a língua não precisa ser literal e se transforma a todo tempo), se você está fazendo uma prova de concurso ou vestibular, é melhor evitar riscos. Recomenda-se, portanto, usar “risco de morte” em vez de “risco de vida”: errado você não vai estar.
E já que estamos falando em pecar pelo excesso, quando não for se referir a, literalmente, atravessar um espaço, opte use “por meio de” em vez de “através”. Você não sabe quem vai avaliar o teste e, convenhamos: todo cuidado é pouco na hora de fazer a prova que pode ajudar a definir sua rota profissional.