Como uma obra literária se torna clássica?

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Os gigantes poderiam ser apenas moinhos de vento, mas se há um adversário real que Dom Quixote conseguiu vencer foi o tempo. Publicada pela primeira vez em 1605, a obra Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, é um clássico que soma mais de quatro séculos encantando dezenas de gerações.

Mas, afinal, o que torna uma obra clássica? A qualidade literária? A relevância histórica? O modo como foi recebida? Esse é um debate que também atravessa os anos e desperta uma série de polêmicas. A gente explica.

O que é cânone?

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A ideia de cânone vem do período antigo, quando a maior parte das pessoas era analfabeta e os letrados eram responsáveis por fazer uma curadoria da produção existente. (Fonte: Izoca/Pixabay/Reprodução)

Ao longo da história, a palavra “cânone” já serviu a diferentes sentidos, como uma régua para medidas diversas e para livros permitidos pela Igreja Católica. Mas o significado está sempre relacionado ao que é referência em um gênero, e isso vale para a Literatura. O cânone literário é composto de obras que são consideradas “sagradas”, ou seja, são perenes, não se misturam com as demais.

Há bastante debate sobre a legitimidade dessa ideia. Afinal, a razão de haver mais obras europeias no cânone passa por questões políticas (os brasileiros escrevem pior que eles ou simplesmente escrevem em uma língua não hegemônica?). E hoje existem outros modos de avaliar a qualidade literária, como o Nobel de Literatura.

Mas, enquanto especialistas, escritores e leitores avançam nessa discussão, o cânone continua sendo um referencial para marcar as obras mais importantes da história da humanidade.

Agora, quais são os critérios pelos quais o cânone avalia as produções? O blog do Mackenzie listou três deles. Confira a seguir.

O que faz um livro ser clássico da literatura?

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Shakespeare está entre os autores que mais discutem a natureza humana. (Fonte: NottmpicturesPixabay/Reprodução)

1. Captura do espírito de um tempo

Jane Austen lançou Orgulho e Preconceito em 1813. A história aborda um drama que se passa no interior da Inglaterra. Além da qualidade literária própria de Austen, que já havia escrito Razão e Sensibilidade, o livro completou 200 anos em ótima saúde graças à capacidade de refletir o ambiente histórico em que foi escrito. A modernidade possibilitou a apresentação de um novo sujeito, e Austen soube capturar essa oportunidade.

A sociedade rural inglesa do período era marcada por uma série de conflitos sociais que o romance deu conta de registrar: disputas agrárias, desigualdade social, dificuldade de mobilidade social, entre outros. Assim, ele é um documento sobre o espírito do seu tempo, e seus personagens foram capazes de dar vida à subjetividade de uma época.

Germinal, do francês Émile Zola, também é capaz de capturar os debates sociais do seu tempo e apresentar a situação de uma população miserável, que trabalhava 16 horas por dia para sobreviver.

Assim, greves e projetos políticos da sociedade europeia do fim do século XIX foram descritos pelo escritor francês em detalhes, permitindo vislumbrar o horizonte desse período histórico por meio de características realistas e naturalistas.

2. Registro da condição humana

Romeu e Julieta, de William Shakespeare, é outra obra que atravessa séculos e permanece atual. O segredo de todo esse sucesso é que, embora o contexto se transforme, alguns dos elementos centrais dos dramas humanos permanecem cotidianos. Paixão, orgulho, inveja e avareza são companhias a longo prazo na história da humanidade.

3. Criação estética

Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis assume um tom genial ao dar voz a um cadáver. Ele não retorna à vida para lembrar, agradecer ou dar grandes ensinamentos; em vez disso, a obra começa assim: “ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas”.

A ironia acompanha toda a obra. O narrador não conta sua biografia com orgulho, mas apresenta um cenário medíocre. Uma vida com insucessos, tropeços, desencontros. E a opção em permitir que o próprio morto apresente uma existência apática é uma opção estética interessante.

O escritor fluminense também inova ao escrever Dom Casmurro em pequenos trechos, alguns deles minúsculos. Diferentes de outros romances do período, em que os capítulos eram regulares por serem publicados nos jornais, a obra apresenta uma série de capítulos de apenas um parágrafo.

Além disso, Machado de Assis dialoga com o leitor e o chama a participar ativamente. Um exemplo disso é o capítulo XLV de Dom Casmurro:

“Abane a cabeça, leitor; faça todos os gestos de incredulidade. Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já o não obrigou a isso antes tudo é possível. Mas, se o não fez antes e só agora, fio que torne a pegar do livro e que o abra na mesma página, sem crer por isso na veracidade do autor. Todavia, não há nada mais exato.”

Esse exemplo ilustra como o autor se destacava dos demais escritores do seu tempo. E, aproveitando o estilo de conversar com o leitor, pega esta dica: no curso de Letras do Mackenzie, você aprende isso e muito mais.

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Fontes: E-Dicionário de Termos Literários, Cultura Genial, Tag Livros, Grupo Autêntica.

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