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Já ouviu falar na expressão Inutilia truncat? O termo em latim significa “tirar o inútil” e pode ser fundamental para entender o movimento literário do Arcadismo, juntamente dos mais famosos Fugere urbem e Carpe diem. Mas antes de mergulhar nas características deste estilo vamos entender o contexto do seu surgimento.
Contexto histórico
Durante os séculos XVI e XVII, as principais manifestações artísticas da Europa, como a arquitetura, pintura, literatura e música, foram dominadas pelo estilo Barroco. Ele era caracterizado pelos excessos, tudo era extremamente detalhado, repleto de ornamentos e de adornos.
Apesar da forte influência religiosa, principalmente com a centralidade que a Reforma Protestante (1517) e a Contrarreforma (1545-1563) causaram no mundo, o estilo também exaltava os prazeres sensoriais. Dessa forma, as obras eram marcadas pela oposição e pelo conflito, quadros apresentavam temáticas religiosas, mas marcados por corpos nus. A luz e a sombra eram usadas com alto-contraste, gerando reflexões sobre o mundo espiritual e o carnal, o pecado e o perdão, e a fé e a razão.
Com a chegada do século XVIII, o mundo via constantes transformações sociais acontecendo. Grandes regimes monárquicos entravam em colapso ecom isso, o Clero também perdia o prestígio.
O avanço de ideias protestantes colaboraram para esses movimentos. No campo filosófico, o Iluminismo e o racionalismo ganhavam força e se opunham a uma visão fortemente religiosa de mundo. A ascensão da burguesia nos âmbitos econômicos e políticos também transformou a realidade cotidiana.
É nesse contexto que surge o Arcadismo, influenciado por uma retomada de valores pagãos da Antiguidade Clássica. Seus temas versavam sobre coisas simples e cotidianas, buscava a nitidez das ideias e fugia dos temas rebuscados e confusos dos escritores barrocos.
Por que Arcadismo?
Na Itália, os escritores deste período se inspiraram nos gregos antigos para criar uma academia literária. Segundo a lenda, Arcádia era uma antiga cidade da Grécia governada pelo deus Pã e habitada por pastores que viviam de forma simples, se entregando aos prazeres e à poesia. Foi dessa academia que saíram muitos dos trabalhos que influenciaram os escritores do Arcadismo em Portugal e no Brasil.
Pela referência às ideias gregas, o movimento arcadista também é conhecido como neoclassicismo, e, por ter ocorrido no século XVIII, também é chamado de setecentismo.
Características e lemas do Arcadismo
Como vimos, tanto a temática quanto a forma das produções literárias árcades passaram por simplificações quando comparadas às obras do período anterior. Além disso, as obras eram inspiradas por uma série de motes, que conferiam significado ao movimento. Vejamos alguns deles:
- Inutilia truncat: do latim “Tirar o inútil”, ou seja, retirar da obra maneirismos e enfeites que não serviam para a compreensão das ideias.
- Fugere urbem: do latim “fuga da cidade, urbanidade”. O movimento foi marcado pelo louvor da vida no campo, bucólica. As aglomerações urbanas eram vistas como inimigas da felicidade.
- Locus amoenus: do latim “lugar ameno”, demonstra novamente a preocupação com a busca de um lugar tranquilo para encontrar a felicidade.
- Carpe diem: do latim “aproveite o momento”, sugere a preocupação em aproveitar o momento, extrair a felicidade das coisas simples e cotidianas, fugir da busca da riqueza.
- Aurea mediocritas: do latim “mediano, medíocre”, um conceito que sugere que o homem mediano é o que encontra a verdadeira felicidade.
Escritores árcades mais importantes
No Brasil escritores como Santa Rita Durão (1722-1784), escritor do poema Caramuru; Tomás António Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu; e Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1793) autor do poema Canto Genetlíaco, são exemplos de arcadistas.
Em Portugal, os principais escritores do arcadismo são Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), Correia Garção (1724 -1772), Marquesa de Alorna (1750 -1839) e Francisco José Freire (1719-1773).
Fonte: Brasil Escola, Toda Matéria, Só Literatura.