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O ano de 2014 foi difícil: além de não ganhar a Copa do Mundo disputada em casa, o Brasil perdeu de 7×1 para a Alemanha. Mas uma grande vitória compensou toda a tristeza do futebol: esse foi o ano em que o País saiu do Mapa da Fome.
A notícia significa viver ou morrer para muitos brasileiros. E é isso que torna tão dramática a informação de que, na virada desta década, o Brasil voltou a viver o problema. Cerca de 55 milhões de pessoas vivem hoje abaixo da linha da pobreza e são a expressão real do retorno ao Mapa da Fome.
Quer conhecer mais essa realidade? Então confira aqui como o índice é verificado e o lugar que o Brasil ocupa.
Até 2014, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) usava um método para designar se a fome era um problema estrutural nos países. E foi no último ano de uso desse instrumento que o Brasil conseguiu superar esse problema histórico.
Os indicadores do Mapa da Fome foram criados pela FAO e compunham um quadro chamado Prevalência de Desnutrição. Por meio deles, a organização media o acesso adequado aos alimentos e segurança alimentar do conjunto da população. A avaliação seguia os princípios dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Basicamente, o que estava em jogo era o atendimento ou não ao consumo alimentar suficiente para manter uma vida ativa e saudável. E, embora especialistas considerem a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais eficaz, o fato é que sair do Mapa da Fome foi um passo fundamental.
Hoje, a ONU usa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como métrica para os principais gargalos do desenvolvimento humano. Segundo esse parâmetro, o Brasil continua sem voltar ao Mapa da Fome.
Institutos ligados à soberania alimentar, como o Instituto Fome Zero, continuam replicando estudos por meio da metodologia anterior. Eles apontam que, desde 2022, o Brasil está de volta ao Mapa da Fome. Mais que isso, os dados fazem o Brasil voltar no tempo: a realidade hoje se equipara à de 2004.
A história brasileira sempre teve na superação da fome uma questão central. Este é um dilema crônico e faz parte do cotidiano da população mais pobre há séculos. E a nova colocação do Brasil no Mapa da Fome demonstra como os problemas estruturais do País ainda passam pela efetivação dos direitos mais básicos.
Em 1946, o médico Josué de Castro escreveu um livro fundamental para compreender esses elementos. A obra Geografia da Fome continua atual e debate em termos teóricos o que os brasileiros ainda vivenciam mais de 70 anos depois, a exemplo da venda de ossos nos supermercados e pelas filas na doação de carcaças de carne.
A cultura popular atesta a persistência da fome com muita frequência. A cantora Elza Soares, falecida recentemente, foi ridicularizada em relação às suas roupas ao participar de um concurso musical em que se inscreveu para ganhar dinheiro para se alimentar. “De que planeta você veio?”, ela respondeu: “do planeta Fome”.
O samba do músico Paulinho da Viola também fala desse problema: “eu sei que dói no coração falar do jeito que falei, dizer: o pior aconteceu, pode guardar as panelas que hoje o dinheiro não deu”. E o poeta Manuel Bandeira tem um poema de 1947 que aborda dimensão sub-humana a que a fome reduz o ser humano:
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
A Rede PenSSAN, que colabora para o desenvolvimento da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, entende que a fome atinge quase 10% da população. Esse cenário torna as políticas públicas da área ainda mais urgentes, mas o desafio é achar um equilíbrio entre a efetivação dos elementos mais básicos de sobrevivência e o equilíbrio fiscal. Essa é a balança que está no centro do debate do combate à fome.
Alguns setores acreditam ser fundamental manter as políticas de austeridade, como o Teto de Gastos, e outros argumentam que a distribuição de renda faz parte da solução do problema, porque além de acabar com a fome ajudariam a gerar consumo e, portanto, demanda produtiva.
Enquanto não há consenso sobre o que fazer com as políticas públicas de combate à pobreza, os brasileiros voltam a conviver com o 7×1 da fome.
Fonte: TNOnline, BdF, Folha, Ecodebate.