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Em 1904, a cidade do Rio de Janeiro (RJ) vivia um momento de convulsão social. Depois do fim da escravidão, da queda da monarquia e da série de revoltas que marcaram o novo regime, muitas pessoas migraram para a então capital nacional. Estima-se que entre a última década do século XIX e a primeira década do século XX a população do Rio passou de 520 mil habitantes para mais de 810 mil.
Com esse grande fluxo de pessoas, o planejamento urbano feito na época do Império logo ficou defasado. Multiplicavam-se cortiços, pensões e favelas com pequenas moradias, e a falta de estrutura e saneamento básico levou ao crescimento de diversas doenças, principalmente nas classes mais pobres. Entre as doenças que causaram crises sanitárias na época, estavam varíola, peste bubônica, febre amarela, febre tifóide e tuberculose.
Foi nesse contexto que Rodrigues Alves assumiu a presidência da República em 1902. Em seu primeiro discurso ao congresso, abordou a preocupação com a capital e como suas crises sanitárias afetavam o turismo e consequentemente todo o Brasil.
Campanhas sanitárias de Oswaldo Cruz
Assim que conseguiu apoio no Congresso, Alves destinou vultuosos recursos para a reestruturação da capital. A reforma urbana ficou a cargo de Pereira Passos, e as medidas de saneamento foram responsabilidade do médico Oswaldo Cruz.
Cruz estruturou hospitais de campanha, combateu focos de reprodução de mosquitos da febre amarela e da dengue e inseriu a população no combate a doenças com os Conselhos do Povo. Além disso, para combater a peste bubônica, foram feitas extensas campanhas de exterminação de ratos e pulgas.
Obrigatoriedade da imunização e Revolta da Vacina
O problema da varíola dependia exclusivamente da vacinação. Desde 1846, a imunização era obrigatória para adultos, mas a exigência não era cumprida, até porque a vacina não era produzida em escala industrial. Em 1904, Cruz motivou o Congresso a aprovar uma lei que instaurava a obrigatoriedade da imunização contra a varíola em todo o território nacional. Com isso, apenas os vacinados conseguiriam contratos formais de trabalho, matrículas em escolas, certidões de casamento e autorização de viagens.
Quando a lei foi aprovada e o texto foi divulgado pela imprensa, iniciaram-se diversos focos de revolta popular. Muitos moradores já reclamavam da truculência do governo durante as inspeções sanitárias, as desinfestações e as invasões de casas para essas ações. Também havia um medo muito grande da vacina, que era uma forma ainda recente de prevenção de doenças, além de muita desinformação.
Em pouco mais de 1 semana após a aprovação da lei, manifestações ganharam corpo no Rio de Janeiro contra a obrigatoriedade da vacina. Grupos que queriam a volta da monarquia, militares positivistas e grupos ligados às elites cafeeiras aproveitaram a situação para tentar um golpe de estado e inflaram ainda mais a população.
As manifestações se tornaram violentas e houve diversas trocas de tiros com as tropas do governo. Jornais da época narraram o episódio descrevendo o cenário de guerra da cidade, com o comércio fechado e diversos imóveis depredados. Por fim, as tropas governamentais controlaram a situação. Mais de 2 mil pessoas foram atingidas, com 945 presos, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos durante quase 2 semanas de confrontos.
Após o acontecido, a vacinação obrigatória foi suspensa, e a taxa de vacinação que vinha crescendo caiu drasticamente. Alguns anos depois, em 1908, o Rio de Janeiro viveu a maior epidemia de varíola até então, e a população, em um movimento contrário à revolta, correu para se vacinar.
Fonte: Fiocruz, Toda Matéria, educa Mais Brasil, Mundo Educação, Brasil de Fato.