A pandemia aumentou drasticamente o índice de desemprego e reduziu a presença feminina no mercado de trabalho. Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o índice de inatividade entre mulheres a partir de 14 anos de idade subiu para 45,8% — o pior cenário desde os anos 1990.
Para entender o fenômeno é necessário compreender os problemas estruturais que cercam a participação da mulher no espaço corporativo. A desigualdade social não é uma novidade e se expressa também na questão de gênero, fazendo que a presença feminina no mercado de trabalho esteja sempre em risco, além de ter remuneração e condições de trabalho inferiores às masculinas.
Isso se tornou um fator ainda mais presente durante a pandemia. Em grande medida, a situação se deve à sobrecarga ligada a tarefas domésticas, o que tem levado mulheres à inatividade (quando não estão trabalhando nem buscando uma nova ocupação).
A pesquisa Sem parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia, organizada pela plataforma Gênero e Número, aponta que metade das mulheres passou a se responsabilizar pelos cuidados de alguém durante a crise sanitária.
No home office, as horas dedicadas por elas às tarefas domésticas aumentaram de forma significativa, dificultando, e muitas vezes impossibilitando, o desempenho profissional. Nesse sentido, o fechamento de escolas e creches foi um agravante.
Diante desse quadro, muitas mulheres viram a necessidade de abandonar o emprego e assumir ativamente outras funções, dada a urgência da situação. Segundo um estudo do Datafolha de agosto de 2020, apenas 21% dos homens que começaram a trabalhar de forma remota afirmaram terem acumulado a maior parte dos afazeres domésticos, enquanto o percentual feminino foi de 57%.
É interessante observar que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os setores mais afetados no período de isolamento eram ocupados principalmente por mulheres. A área com maior queda de população durante a pandemia foi a de alojamentos e alimentos, com 51%; desses trabalhadores, 58% são mulheres.
Pode-se destacar também outros setores, como o de serviços domésticos, com 85,7% de ocupação feminina e 46,2% de queda; e o de educação, saúde e serviços sociais, que sofreu perda de 33,4% de profissionais, com mulheres representando 76,4% dos colaboradores da área.
Diante disso, é possível entender um pouco melhor as razões por trás da diminuição da parcela feminina no mercado de trabalho, como apontado nos dados da Pnad Contínua. Mas o que esperar das consequências de um tempo longo de inatividade comercial? Para Ana Luiza Barbosa, pesquisadora do Ipea, os efeitos desse fenômeno devem variar de acordo com o tipo de trabalho e de vínculo empregatício e estão relacionados diretamente com o nível de escolaridade e de renda das trabalhadoras.
De toda forma, é importante que as mulheres encontrem portas abertas não apenas fora de casa, com mais vagas de emprego, mas também junto a parceiros e familiares homens, que devem dividir igualmente as tarefas de manutenção do lar.
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Fonte: Infomoney, Estadão, O Globo, Folha e Estudo Mulheres na Pandemia.