Você pode já ter visto um meme por aí que diz o seguinte: “se eu desinstalar o app do banco virtual, as parcelas do cartão de crédito acabam, certo?”. Pois bem, não acabam. E, piadas à parte, é assim que boa parte das pessoas lida com dinheiro, algo que especialistas da área chamam de fobia financeira.
Entenda mais sobre o tema, por que ele é preocupante e o que fazer para ter uma vida saudável, com planejamento financeiro e capacidade de tomar boas decisões.
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O que é fobia financeira?
Fobia financeira é um termo que descreve uma aversão desproporcional a temas relativos à gestão dessa esfera da vida. O problema pode causar mal-estar físico e mental – ansiedade, taquicardia e insônia são indícios frequentes -, e paralisar a capacidade de tomar decisões em aspectos cotidianos.
Embora não esteja formalmente descrita no DSM (manual estatístico mais usado pela Psiquiatria, que cataloga os transtornos mentais mais comuns), a fobia financeira pode produzir sofrimento intenso e uma gama de sintomas. Por isso, o conselho é: se a qualidade de vida está sendo afetada, vale a pena conversar com seu médico ou seu psicólogo a respeito do problema.
Fobia financeira: termo nasceu há mais de 20 anos
Bom, mas se o termo não vem da área da saúde, como surgiu? O conceito foi cunhado há cerca de 20 anos pelo sociólogo Brendan Burchell, da Universidade de Cambridge. Em 2003, o professor foi convidado pelo banco Egg para conduzir uma investigação sobre um possível fenômeno de “dislexia financeira”.
O pesquisador não encontrou evidências disso, exatamente, mas se deparou com dados assustadores sobre o modo como as pessoas lidavam (ou deixavam de lidar) com sua vida financeira: ignorar boletos, não consultar as contas, gastar sem fazer cálculos, e assim por diante. Algo como fingir que está tudo bem por não dar conta da realidade.
É bem verdade que a condição socioeconômica afeta a capacidade de gerir os recursos financeiros e a saúde mental pode pagar a conta. Quem está desempregado tem mais chance de sofrer ou mesmo de adoecer por esses problemas, certo? Mas um dos pontos que alarmou Burchell é que, entre o público pesquisado, mesmo pessoas estáveis financeiramente passavam por isso: 20% delas não conseguiam gerir seus recursos mesmo em um cenário estável, e metade delas tinha sintomas físicos como taquicardia.
O problema se acentua porque a fobia financeira carrega consigo um efeito bola de neve. Quanto mais os problemas se acumulam, mais fica difícil encarar a vida financeira; e, quanto mais tempo se passa sem cuidar dessa questão, mais o descontrole toma conta, e os resultados negativos tendem a escalar na saúde física, mental e da conta bancária. Daí o nome fobia financeira, que “pegou” entre os especialistas ao sugerir o tom patológico da questão.
Por isso, ao enfrentar uma crise assim, é interessante uma abordagem interprofissional. Os psicólogos são importantes, os médicos são bem-vindos, mas orientação de quem tem expertise em educação financeira pode ser a diferença para que o problema vá embora e não volte mais.
Planejamento financeiro: por onde começar?
Se você segue páginas de especialistas em finanças pessoais, pode ter percebido que as dicas nem sempre cabem no mundo das pessoas comuns, com salários intermediários. Pior: elas não se aplicam a quem tem dívidas, que já começam no negativo. E isso cai como uma bomba para quem está com problemas no bolso e entende que não tem jeito, ter saúde financeira não é mesmo para ela.
Mas, por mais dramática que esteja sua planilha de gastos pessoais (aliás, você tem uma?), é preciso encontrar táticas de resolução para o curto, o médio e o longo prazos. Então, veja um passo a passo que indica por onde começar:
1. Faça um diagnóstico da sua realidade e prospecte o futuro
O pior cenário possível é não se saber qual é o cenário. Pode não ser fácil fazer esse mapeamento, sobretudo se você é acometido de fobia financeira, mas vale a pena. Liste quais são as suas dívidas, quais delas estão em atraso, quais são suas receitas, quais são seus custos cotidianos. Faça um raio-X completo.
Feito isso, entenda onde você quer chegar. Pode ser difícil a curto prazo comprar uma casa, um carro e uma viagem, mas, se esses forem os seus sonhos, é importante tê-los em mente. Não dá mesmo para fazer tudo ao mesmo tempo, ainda mais se você está todo enrolado (caso da maior parte dos fóbicos financeiros), mas a ideia é mapear o que você deseja para sua vida.
2. Estabeleça prioridades
Talvez você perceba que a situação não está muito adequada… e tudo bem. Acolha sua situação. Pense que é importante ser honesto consigo mesmo. Um passo de cada vez. A escolha central está em entender qual o tamanho da crise, desmembrar as ações e escolher as batalhas que podem ser vencidas.
É possível que você não abra mão da academia de jeito nenhum, mas que estudar uma segunda língua pode ficar para o ano que vem. Ou, em vez disso, que cancelar um streaming de vídeos é uma boa ideia, mas deixar de sair com os amigos no fim de semana não. Entender o que é dispensável e o que não é torna seu plano mais executável.
3. Crie um plano com metas factíveis
É irreal para a maior parte das pessoas poupar uma quantia grande do salário ou pagar dívidas que consomem todo o horizonte financeiro. Por isso, a ideia é resolver os problemas aos poucos, devagar e sempre, sem perder a saúde financeira.
Um erro comum de quem não consegue olhar as finanças de sempre é resolver as demandas de forma voluntarista, sem que isso dialogue com as possibilidades práticas. Por isso, vá com calma. Crie um planejamento factível, condicione seus horizontes financeiros, priorize as contas a pagar e guarde uma parcela do seu salário de imediato, mesmo com dívidas. Afinal, se você não fizer isso, pode ser pego de surpresa com algum contratempo e se endividar novamente, realimentando o problema e a fobia financeira.
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4. Aumente os investimentos progressivamente
Saúde financeira é como saúde física e mental: uma construção de anos. Ao pagar contas e não se endividar novamente, você pouco a pouco terá margem para avançar mais nas possibilidades de guardar dinheiro e investir parte dele.
De início, é importante ter um fundo de emergência que represente ao menos três vezes seus custos fixos (moradia, alimentação etc.). A partir disso, você pode diversificar mais o horizonte e usar de ativos que não tenham liquidez imediata – e que, por isso, remuneram melhor. Assim, você poderá ao longo do período fazer os juros somarem ao seu patrimônio.
Gostou das dicas? Se você chegou até aqui é porque seu caso de fobia financeira tem salvação, e informação é o melhor remédio a esse mal.