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O Brasil tem um panorama delicado quando o assunto é saúde mental. Dados do International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) mostram que, entre a população economicamente ativa, 72% lidam com níveis elevados de estresse e, destes, 32% desenvolveram burnout. A grande maioria, porém, não procura ajuda e segue trabalhando por medo de ser demitido ou de sofrer represálias na empresa.
A jornalista Izabella Camargo viveu uma situação bastante grave nesse sentido. Após anos trabalhando na televisão, iniciou em um novo posto apresentando o jornal da madrugada. Ela já sentia vários sintomas de estresse e tratava com diferentes especialistas, mas nenhum percebeu a chegada do burnout, um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema no ambiente laboral.
Para dar conta da rotina, tomava remédios para conseguir dormir, e outros para conseguir se manter acordada durante as tarefas. A rotina exaustiva continuou até que, durante a apresentação de um jornal, Camargo teve lapsos de memória e não conseguia lembrar fatos simples nem concluir raciocínios. Foi aí que veio o diagnóstico do burnout.
A síndrome de burnout foi definida em 1974 pelo psicólogo alemão Herbert Freudenberger. Ela descreve um esgotamento mental que ocorre por excesso de trabalho e pode gerar problemas como lapsos de memória, taquicardias, depressão e crises de ansiedade.
Após o episódio, a jornalista foi afastada para tratamento, mas quando retornou ao trabalho foi demitida. Isso acarretou um longo processo que acabou em um acordo favorável à apresentadora. Nesse período, Camargo decidiu pesquisar o trabalho e a saúde mental, então escreveu o livro Dá Um Tempo, no qual cunhou o conceito de “produtividade sustentável”.
Segundo a autora, o conceito deveria ser simples, mas, como mostram as estatísticas, não é. A ideia é conseguir manter a capacidade de trabalhar sem que isso afete a saúde, os relacionamentos e sem a necessidade de remédios e outros “combustíveis” que possam fazer mal à saúde.
O grande problema é que quanto mais se cresce em uma empresa ou quanto mais se necessita de um trabalho, maior é a tendência de aceitar mais demandas. A ideia de que “darei conta custe o que custar” é extremamente perigosa.
Geralmente, nesses momentos o corpo começa a mandar sinais de alerta, como dores, sentimentos de cansaço, tristeza, ansiedade e outros. Segundo a autora, a pesquisa mostra que as pessoas tendem a atribuir esses sinais a situações externas, como cadeira, computador e falta de sono, mas não percebem o ambiente de trabalho a que estão expostas. Camargo conta que, pela própria experiência, é melhor uma pausa programada do que uma obrigatória.
A produtividade sustentável é um convite a uma atualização da identidade, ou seja, parar para entender os efeitos que a sua rotina provoca sobre o modo como você e as pessoas ao seu redor te enxergam. Será que você gosta da pessoa que o seu trabalho tem te obrigado a ser?
Para a autora do conceito, a principal maneira de pensar essa atualização da identidade é investir no autocuidado, atentando-se às horas de sono, à respiração, aos exercícios físicos e à alimentação. Além disso, é importante levar em conta sua realidade, um profissional de 50 anos não terá o mesmo pique para determinadas atividades do que um de 20. Isso não significa que ele será menos produtivo, mas suas atividades devem ser pensadas de maneira diferente.
Um dos benefícios da produtividade sustentável é diminuir os índices de agressividade. Segundo Camargo, pesquisas mostram que pessoas mais descansadas são menos reativas e agressivas. Isso melhora a comunicação e todo o ambiente de trabalho.
Um dos dados mais preocupantes que surgiram na pesquisa do livro foi confirmada pela Associação Brasileira de Psiquiatria e mostra que 98% das pessoas que apresentam burnout amam o que fazem.
Em outras palavras, aquela máxima de que, ao se encontrar o que gosta de fazer, não se trabalha nem mais um dia, não parece ser verdade. Pessoas que amam seu trabalho acabam aceitando cargas de trabalho muito maiores e enxergam as metas quase como uma obrigação moral, o que as fazem levar o corpo e a mente ao limite.
O exemplo e a pesquisa de Camargo mostram que, não importa a qualidade do trabalho nem o tamanho do esforço, se o corpo e a mente forem negligenciados, o ritmo de produtividade não pode ser mantido. Por isso, é importante desacelerar para ir mais adiante e alcançar a produtividade sustentável.
Fonte: Você RH, Revista HSM, Observatório da TV, Catraca Livre, Exame.